domingo, 3 de janeiro de 2010

atrevidinha

Arraiá de culturas
As festas juninas chegaram com os portugueses, mas a união de tradições deixou a comemoração com a cara do Brasil

POR CLARICE CARDOSO ILUSTAÇÕES: ISABELA SANTOS

Parece até que o mês de junho tem um cheiro, um gosto e um som todinho dele. Cheiro de pipoca, gosto de pamonha e som de quadrilha. As festas juninas nos embalam durante os 30 dias do mês, mas a comemoração começou mesmo por aqui há mais de 500 anos, quando os portugueses chegaram ao Brasil. Eles trouxeram um hábito europeu que existe desde o século 12, o de comemorar a colheita e o solstício de verão (dia mais longo da estação), em junho.

Essas tradições agradaram os brasileiros logo de cara. Rapidinho, elas se juntaram às indígenas e, mais tarde, às africanas, formando, assim, outra novinha, com a nossa cara. As danças da corte, chamadas de quadrilhas, eram muito populares na França e passaram a ser reproduzidas por aqui. Os alimentos também foram adaptados ao que era colhido no inverno brasileiro. A igreja católica trouxe a tradição de Santo Antônio, São Pedro e São João. Pronto! Estava feito o nosso arraial!

Tradição com rodinhas

As festas juninas se espalharam pelo Brasil junto com a ocupação do nosso território. Hoje, cada pedaço do País tem o seu jeito de comemorar. Alguns são mais tradicionais, como os nordestinos. Outros, como os nortistas, reforçaram a influência indígena. Já os moradores do Sudeste e do Sul tiveram de se adaptar ao crescimento das cidades. A tradição inicial é a mesma, mas ela se transforma e passa a ter a cara do lugar onde é comemorada. Ou vai dizer que as grandes festas de São João não são a cara dos animados nordestinos e as urbanas quermesses não combinam com as grandes metrópoles? "Hoje temos, no mínimo, três festas juninas diferentes pelo Brasil, uma no Sudeste, outra no Norte e outra no Nordeste, cada uma com uma cara diferente", diz Rita Amaral, doutora e pesquisadora do Núcleo de Antropologia da USP.

Igual, mas diferente

Algumas diferenças marcam as festas juninas no Nordeste e no Sudeste. A roupa é uma delas. "Os nordestinos usam chapéus de boiadeiro (aqueles de couro que parecem um coco pela metade) e os vestidos são de chita colorida", lembra a pesquisadora do Centro de Tradições Nordestinas, Mariana Conti. No Sudeste, a tradição europeia é mais forte. O chapéu é de palha e os vestidos são uma adaptação das roupas usadas nos palácios europeus.


Fogueira

Festa junina sem ela não tem graça. A fogueira virou um símbolo dessas comemorações por causa de São João. O nascimento desse santo católico - símbolo da festa ao lado de São Pedro e Santo Antônio - foi anunciado com uma grande fogueira. Hoje, quanto maior a fogueira, mais animada será a festa.


Santa gula!
No Brasil, alimentos feitos de batata-doce e milho são os mais tradicionais da festa. Essas guloseimas estão juntas graças à tradição europeia de comemorar a colheita da estação oferecendo o alimento colhido e ao hábito indígena de plantar o milho.


Som na caixa!

As músicas das festas juninas falam sempre dos santos católicos e da vida no campo. Essa tradição vem do fato de o Brasil ter sido por muitos anos um país rural. Esse motivo também fez que a festa tivesse sempre esse ar caipira, uma lembrança de quando o País era quase uma grande fazenda

De volta às origens

Na Europa ainda há festas parecidas com as que influenciaram as nossas festas juninas, mas elas são mais fortes em países católicos, como Portugal e Itália. As danças e alimentos típicos dessa época ainda estão por lá, mas as fogueiras e festas de rua estão cada vez mais raras.

Com que roupa?

As roupas com estampa xadrez, de flanela, o lenço no pescoço e os vestidos volumosos são uma tentativa de reproduzir as roupas nobres usadas nas festas das cortes europeias, principalmente a francesa.


Lá vem a noiva!

Os casamentos caipiras que dão início aos festejos são, na verdade, uma brincadeira com as cerimônias que aconteciam nas cortes. As inversões dos papéis, com uma noiva feia e um noivo fujão, divertem e lembram a importância das regras para a sociedade.

O maior São João do mundo

Duas cidades nordestinas já são tradicionais quando o assunto é festa junina e disputam o título de "Capital do Forró": Caruaru, em Pernambuco, e Campina Grande, na Paraíba. As duas cidades, pacatas durante o ano, recebem milhões de pessoas em junho. Para atrair turistas vale tudo, desde construir uma cidade cenográfica com atores até trio elétrico com música junina.

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